sábado, 17 de maio de 2014

Durante a década de 50, o Rio de Janeiro destacou-se como principal centro gerador da produção de gravura em nosso país. A presença de Oswald Goeldi, Iberê Camargo e Lívio Abramo na então capital federal serviu como fator aglutinador. Diversos gravadores vieram para temporadas de estudos no Rio.
"A criação: adão e eva", xilogravura, Gilvan Samico.
É importante notar que, a partir dos anos 50, a gravura de origem expressionista, originária do sul e sudeste, passa a dialogar com a produção nordestina, de forte influência popular, em especial as xilogravuras de literatura de cordel. Destaca-se  Gilvan Samico por sua capacidade de sintetizar o espírito de construção modernista com a cultura tradicional nordestina. Suas gravuras constituem um dos mais significativos exemplos da arte brasileira, sua produção é atemporal e recusa fronteiras. Ela mergulha na mística, na simbologia, na religiosidade popular. Cada gravura de Samico é uma demonstração da capacidade da arte de comentar o universal sem abandonar o individual.
Na Segunda metade da década de 50, a produção de gravura em São Paulo passou a se destacar, graças a Lívio Abramo, Renina Katz e  Marcelo Grassmann. Este último, com uma obra de profunda dramaticidade, povoada por homens e animais que atuam como verdadeiros arquétipos das forças antagônicas, da Vida e da Morte. Nesse momento ainda, a gravura amplia suas ações: além dos compromissos com a ilustração, com a denúncia, com o papel social da arte, ela passa a buscar uma integração com a arquitetura, com a ambientação, com o espaço de convívio. Esse é o caso de Maria Bonomi que desenvolveu na xilogravura imagens de grandes dimensões de extraordinária beleza que se destacam no cenário da arte moderna do Brasil.
"5823", xilogravura, 1958. Fayga Ostrower.
A valorização da gravura brasileira nos anos 50 deve-se principalmente à Fayga Ostrower, pioneira da abstração. À precisão técnica, Fayga sempre soube aliar uma profunda compreensão do espaço moderno. Suas manchas de cor articula-se para a criação de um discurso extremamente sofisticado onde as formas dialogam orientadas por uma sólida base teórica.
O ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro marca o momento áureo da gravura brasileira: final da década de 50 e início dos anos 60. Johnny Friedlander, que já havia sido professor de Arthur Luiz Piza,  Flávio Shiró, Edith Behring e Sérvulo Esmeraldo em Paris, transfere-se para o Rio de Janeiro. Foi a primeira experiência de oficina planejada para a gravura e é graças a ela que a gravura em metal atinge sua maturidade, equiparando-se em nível técnico e experimental com a xilogravura, cujo principal centro passa a ser o Estúdio Gravura, comandado por Abramo e Bonomi em São Paulo. No Rio,  Rossini Perez,   Roberto De Lamonica e  Anna Letycia destacam-se como jovens professores.
"Tatus", gravura em metal, 1961. Anna Letycia.
Com a influência da Pop Art no Brasil a gravura passa a merecer destaque ainda maior. As imagens impressas constituem elemento fundamental para o conceito Pop. O destaque nesse momento é Anna Bella Geiger, aluna de Fayga Ostrower, que dá continuidade às pesquisas e mergulha numa fase orgânica para, posteriormente, dentro dos postulados de superação do movimento neoconcretista, fazer da sua ação resultado da experimentação baseada no conceito e não na prática artesanal. Ana Bella soube dessacralizar a gravura e a sua influência é ainda visível hoje nos jovens gravadores do Rio de Janeiro.
"sem título", 1966, xilogravura. Anna Bella Geiger.
Nesse momento, a litografia, técnica usual para impressão de rótulos comerciais durante o século XX, e a serigrafia, ideal para estamparia, passam a adquirir a aura artística graças ao trabalho do serígrafo  Dionísio Del Santo e aos trabalhos de  Darel Valença com a litografia, técnica que iria desenvolver-se em São Paulo com a presença de  Octávio Pereira.
Ilustração para poema, gravura, Darel.
Para alguns artistas, somente a xilo e o metal constituem técnicas de gravura, já que as matrizes são entalhadas e os sulcos causados pelas goivas, pela ponta-seca ou pela ação de ácidos corrosivos fazem com que a impressão se dê através do negativo e da inversão. Tanto a litografia quanto o silk-screen e mais ainda, a monotipia são, na verdade, grafias sobre o suporte.
Nos anos 70, os jovens artistas direcionavam suas pesquisas para a descoberta de suportes não tradicionais. As técnicas de reprodução foram incorporadas ao mercado de arte, interessado tão somente em editar imagens de artistas consagrados, viabilizando a sua aquisição por um preço mais acessível. Num país sem tradição deu-se o domínio da malandragem: imagens de baixa qualidade e sem nenhum valor artístico passaram a seduzir uma pequena burguesia enriquecida interessada em adquirir somente as assinaturas. Uma grande parte da produção de gravura desse período nada mais é que cópia mal feita de imagens pictóricas. Os verdadeiros artistas gravadores refugiam-se em pequenos núcleos de resistência e se dedicam ao ensino da técnica para as novas gerações. É o caso de Evandro Carlos Jardim em São Paulo e de Anna Letycia no Rio de Janeiro, que determinaram os pilares da nova produção da gravura surgida no final da década de 70 e início da de 80.
"Estras irregulares sobre o vidro fantasia brilhante", Evandro Carlos Jardim.
Nos anos 80 a valorização da ações artesanais fez da gravura uma importante técnica de veiculação de imagens. Já a partir da década de 90, a produção da gravura foi variada e se espalhou por todo o país.

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